Eu não consigo pensar em ideias de negócio que não nasçam de desigualdades sociais, ambientais, económicas ou políticas. Tu consegues? Será o empreendedorismo de impacto diferente do empreendedorismo normal (signifique isso o que significar)? Às vezes parece que temos de responder a isto tudo para justificar o porquê de querermos resolver desafios do mundo, com pinta.
Deixando as questões de lado, “Empreendedorismo de lmpacto” é uma semântica redutora para o que na verdade representa pensar em soluções para os desafios do mundo, desafios sociais, ambientais, econômicos e políticos. A era do coitadismo e do assistencialismo está a ser desafiada por um grupo de pessoas que gosta de criar e de inovar, por um grupo de pessoas que podia estar a fazer outra coisa qualquer mas que escolheu deliberadamente utilizar os seus talentos para alavancar este conceito que nos diz que somos responsáveis por fazer crescer as soluções que podem impulsionar um futuro mais equitativo, para todas as pessoas e por todas as pessoas.
Existe uma nova vaga de pessoas empreendedoras, as que querem criar respostas sociais sustentáveis, as que querem fazer parte da comunidade que influencia e lidera os desafios do mundo, as que são ativistas e se movem por causas custe isso o que custar! As que usam a sua voz e o seu palco para defender aquilo em que acreditam, com ações.
É na construção destas ações que nos vamos focar, para garantir que exploramos as “leis” do empreendedorismo de impacto:
Identificar um Desafio Social, Ambiental, Económico e/ou Político:
Uma das leis do “empreendedorismo de impacto” é começarmos sempre por identificar um desafio, quais as suas causas e se possível construir a proposta de solução para uma das causas, quanto mais profundo conseguirmos ir mais incisiva será a nossa proposta. A maioria das pessoas empreendedoras dedicadas ao impacto identificam desafios que lhes são próximos, muitos desses desafios são até pessoais.
É o empreendedorismo onde na maioria das vezes o coração decide mais vezes do que a razão.
Encontrar o espaço de Inovação:
Esta é universal, percebemos o resultado da soma das nossas competências, interesses e paixões, somamos esse resultados às necessidades do desafio que queremos resolver e a todo o benchmark feito, e só depois é que entregamos esse resultado sob a forma de atividades. O que é que há de diferenciador aqui paralelamente com o empreendedorismo que não é de Impacto? Num mundo ideal todas as pessoas empreendedoras deveriam fazer este exercício de auto descoberta vs de consciência de exequibilidade, mas muitas vezes (sabemos bem) isso não acontece e esse exercício deixa de ser sobre as pessoas e a sua missão e passa a ser sobre os mercados onde atuam ou o lucro que podem gerar.
Sustentabilidade, Modelos de Negócio, Avaliação de Impacto:
Pensar em modelos de negócio no empreendedorismo de impacto é sempre uma utopia, daquelas que sonhamos imenso, inspiramo-nos em mil modelos inovadores xpto’s e passadas muitas tentativas e aprendizagens percebemos que menos é mais e que uma das poucas formas de garantirmos a sustentabilidade é avaliarmos todas as nossas ações e programas para termos a certeza da mudança que estamos a gerar e do valor que estamos a acrescentar para podermos vender essa mudança (esta também é a forma mais rápida de aprendermos sobre os nossos projetos). É importante aprender a dança do investimento, sempre com a consciência que as missões sociais, ambientais, económicas e políticas se praticam de dentro para fora. Mais importante do que o modelo certo, é o tempo certo.
Comunicar Impacto:
Recuperando a frase do primeiro parágrafo “resolver desafios do mundo, com pinta.” É na pinta que está o ganho. Será? Fazendo a ponte entre esta “pinta” e a forma como comunicamos e acima de tudo como planeamos e desenhamos a estratégia de implementação dos planos de comunicação percebemos que é o calcanhar de aquiles das empresas e das organizações de impacto. A resposta é fácil, na dúvida esta é a área onde não existem recursos humanos profissionalizados e na falta de recursos esta é a zona cinzenta da maioria das organizações.
“Os marketeers precisam de ser mais ativistas e os ativistas precisam de ser mais marketeers.” dizia-me Ricardo Pereira, Co-founder da ComOn. Esta frase desafia a forma como olhamos para o calcanhar de aquiles das empresas e organizações de impacto. Quando o marketing pensa no impacto, pensa num instrumento, num meio de “publicidade” que chega ao coração das pessoas e isso vai reverter para quem o usa. Mas e se fosse um instrumento de capacitação e de integração? Se deixássemos a responsabilidade social fora desta equação e criássemos de igual para igual? O potencial que esta visão tinha para deixarmos de ter caixinhas no empreendedorismo e o impacto fosse sugado por todas as ações de comunicação.
Leis à parte, e resumindo este monólogo entre as convicções das pessoas que empreendem, é urgente sermos mais ativistas na forma como usamos os nossos palcos, sejam eles quais forem. Temos de trabalhar “a partir de” e todos os sítios passam a ser um veículo de transformação social, ambiental, económica e política.
Inês Franco Alexandre
Talent Activator Manager , Girl Move Academy
Presidente, Movimento Transformers