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17 de Dezembro de 2021

As coisas a que dissemos “Não” – Game Changer 14

Nas estórias que lemos nos livros nem sempre se começa pelo início. Mas neste artigo, que é uma espécie de curta história da Blanky, pareceu-me importante começar por aí. Mas afinal onde começa a ideia demente de vender cobertores com peso?

Bom, podia ir ao nosso contexto pessoal, ou à nossa infância, mas para esta história parece-me que aquilo que mais interessa é na realidade o início da minha amizade com o Ricardo, porque é nesse período que são lançados os alicerces da nossa empresa. É verdade que ambos fizemos a nossa formação teórica sobre gerir uma empresa entre o metro da Praça de Espanha e o das Laranjeiras (o edifício da Nova SBE na altura era um antigo convento Jesuíta onde o meu pai, exactamente 14 anos antes de eu nascer, foi depositar as armas que tinha levado consigo para a guerra do Ultramar), mas talvez mais importante do que isso foi os sítios onde fizemos a nossa formação profissional. O Ricardo na Accenture, eu na Kearney. Os dois em consultoria estratégica. E é à consultoria, mais do que às aulas de finanças e de estratégia, que atribuímos a maneira como hoje pensamos e gerimos a nossa empresa.

Quando abrimos a Blanky, fizemo-lo simultaneamente em dois países, no meio de uma pandemia (e, na altura, daquilo que aparentava poder vir a ser a maior crise económica das últimas décadas), para tentar criar uma categoria de produto que não existia. Os desafios eram óbvios, mas não há caminhos pré-definidos que possam ser apontados como solução. É essa a dificuldade de gerir uma empresa, qualquer empresa, seja ela grande ou pequena. E portanto, a questão que nos colocámos em 2020 não foi “como é que monta-mos uma empresa”, mas sim “como é que montamos uma empresa em dois países quando o mundo parece estar a acabar e ninguém conhece este produto”?

É fácil achar artigos e livros que nos dizem que o recrutamento é fulcral, que nos prometem revelar os verdadeiros segredos do marketing, que nos suplicam e imploram que não falhemos a revolução digital… Mas há pouca coisa sobre a filosofia de gestão de uma empresa, o ethos que vai para além das funções e dos processos e que, fundamentalmente, define o que estamos ou não dispostos a fazer. Foi essa personalidade, essa maneira de ser, que tanto eu como o Ricardo aprendemos em consultoria.

E qual é? Bom, começa e acaba numa palavra: foco.

O foco pode parecer fácil, mas não é. O exemplo mais relevante é, provavelmente, o discurso de Steve Jobs que pode ser encontrado no youtube com o título “Focusing is about saying no”, proferido no período mais complicado da história da Apple, quando esta estava quase na falência. A parte interessante do discurso é perceber como naquela resposta está o caminho traçado para que a Apple seja aquilo que é hoje. O foco que faltou à empresa durante os anos sem Jobs, que foi readquirido nessa altura, aparenta estar agora, finalmente, no seu ADN.

No nosso primeiro ano nascemos para ser um e-commerce de um produto único em Portugal – cobertores pesados – cobertores feitos especialmente para ajudarem os nossos clientes a dormir melhor. Uma alternativa natural para ajudar no combate ao stress e à ansiedade. No nosso primeiro ano, recusámos vender a hotéis, retalhistas e hospitais. Porque não estávamos preparados, nem em termos de recursos humanos, nem financeiros, nem processuais. Porque fazê-lo implicava perder o foco.

No nosso primeiro ano surgiu-nos a oportunidade de aumentar a nossa pegada internacional, para Itália, Polónia e Brasil. Dissemos que não – não tínhamos escala, equipa nem dimensão para conseguir abraçar o desafio. Fazê-lo hipotecava o que de bom tínhamos feito até aí.

No nosso primeiro ano, vários fornecedores pediram-nos que vendêssemos mais dos seus produtos – também a isso dissemos que não. Estávamos a criar uma categoria nova e fazia pouco sentido começar logo a expansão de portfolio, quando essa categoria não estava estabilizada.

Qualquer empresa tem dezenas, centenas, milhares de boas ideias e oportunidades à espera de serem executadas, e muitas delas têm valor. Mas aquilo que se aprende em economia é a gerir recursos escassos – e gerir uma empresa é exactamente isso: decidir onde alocar os recursos mais escassos que temos – tempo e dinheiro. Em Portugal, as empresas são, na sua maioria e por vários motivos, historicamente más a fazer isto.

A Blanky é uma empresa especial, não pela coragem que teve (outros também a tiveram) de abrir durante a pandemia, não pela categoria de produto que está a trazer para a Ibéria (um sucesso nos países nórdicos, na américa do norte e em outros países europeus) nem pela sua falta de apoios.

A Blanky é uma empresa especial pelo seu foco. Acreditamos piamente que esse é o segredo do nosso sucesso e esperamos que assim continue a ser, agora que nos vamos preparando para adicionar canais, países e produtos à nossa pequena família.

Pedro Caseiro
Co-Founder Blanky

Descarregue aqui a 14ª Edição da Revista Game Changer

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