1 – Como surgiu a ideia de fundar a BGA – Brave Generation Academy?
TV – Já há algum tempo que estou a tentar fazer alguma coisa na educação e depois de ter feito a viagem com a família à volta do mundo comecei a pensar no que poderia fazer para marcar a diferença no mundo de hoje. Quando chegámos, os meus filhos regressaram à escola tradicional, uma escola muito boa por sinal. Mas vi que voltavam para o normal…e que passavam o dia inteiro na escola, com um horário rígido que não permitia que eles tivessem tempo para outras experiências. Depois surgiu esta ideia de que era preciso algo mais flexível, mais de encontro àquilo que são as necessidades do futuro, a forma de criar uma geração resiliente para encarar o futuro, self-empowerment para o futuro e foi aí que comecei a pensar como é que seria possível usar a tecnologia de hoje para fazermos a escola de amanhã acontecer agora.
2 – Porquê investir no setor da educação?
TV – Porque acho que é a coisa mais importante. Dizemos sempre que a educação é o futuro só que damos por nós a maioria das vezes a criticar e a reclamar, mas não fazemos nada sobre isto e eu queria passar da critica à ação e apresentar soluções. Queria investir também numa educação mais democrática, mais próxima destes novos tempos, capaz de mudar vidas.
3 – Quando fala sobre a BGA, como é que descreve o conceito?
TV – Eu digo que tiramos o melhor proveito do online e do offline. E misturamos num blended learning, de uma forma híbrida e flexível. A BGA está assente em 3 pilares: 1o o conhecimento, e aqui usamos o currículo internacional através dos IGCSE’S e o A Level’s. No 2o pilar as chamadas skills, ajudando a desenvolver e a descobrir “as paixões” das crianças e no 3o pilar a comunidade usada na música, na arte, no desporto e em tantas outras formas como uma maneira de estarmos ligados ao meio onde o nosso hub está situado. Nos hubs as crianças vão lá todos os dias, têm as soft skills, têm os mentores/learning coaches que conhecem os seus sonhos, que querem lá estar e que querem dar o melhor aos estudantes, ajudando-os a desenvolver capacidades para atingirem os objetivos a que se propõem.
4- Em termos de objetivos, como é que é um aluno BGA?
TV – Nós queremos que os nossos estudantes saiam a pensar que o mundo é grande, mas não mete medo! e que tudo é possível. Saiam a saber gerir a necessidade, a vida e os desafios. Um estudante BGA sai preparado para o futuro. Eles sabem que o mundo está em constante mudança e que muitos dos empregos que vão encontrar ainda nem sequer existem. Eles terão essa capacidade de se adaptar, ultrapassar situações num espírito de constante aprendizagem que estará presente para o resto das suas vidas. Costumo dizer que os nossos estudantes são brave. São suficientemente brave para enfrentar o mundo e fazerem a diferença.
5 – É isto que torna a BGA diferente do que existe?
TV – Exato! porque nós damos essa responsabilidade aos nossos estudantes. Eles começam logo aos 12 anos a perceber que estão a fazer algo que é por eles e isto é muito importante. As crianças são muito mais fortes e dinâmicas do que nós pensamos. Têm mais capacidade de fazerem coisas acontecerem do que os pais imaginam. E quando lhes damos oportunidades para criar, trabalhar, a magia acontece.
É essa a nossa grande vantagem. Proporcionamos isso com o nosso método e assim, desde cedo ficam a perceber como funciona o mundo real.
6- Podemos dizer que a BGA tem um público-alvo?
TV – Não. A nossa intenção é chegar a todos. E temos tido muitos pais portugueses a quererem ter os seus filhos connosco e a fazerem o currículo internacional que lhes vai abrir portas, possibilitar estudar lá fora e um dia trabalhar para uma empresa multinacional. Começam a olhar para a BGA como uma alternativa. Outro dos aspetos positivos é que o valor cobrado por nós é bastante inferior ao praticado pelas escolas internacionais o que torna este projeto mais democrático nesse aspecto. Obviamente também temos os estudantes estrangeiros que querem fazer os IGCSE’S e os A Level’s porque abre muitas portas. Neste momento não temos só hubs em Portugal, já estamos com hubs em África, vamos avançar para os Estados Unidos e esta expansão é outra das nossas mais-valias porque abre mais oportunidades para mais pessoas.
7 – Uma das grandes vantagens do modelo da BGA é os estudantes poderem “desenhar o seu horário”. Sente que as pessoas estão mais abertas e adeptas de um modelo híbrido face ao tradicional?
TV – Sim, foi uma grande surpresa porque achávamos que íamos encontrar muitos pais com medo de avançar, no entanto são muitos os que querem abraçar este modelo porque, por exemplo, querem passar férias em outras alturas do ano, ou porque querem sair à sexta-feira para passarem o fim-de-semana numa casa que tenham noutro sítio ou então porque querem passar mais tempo com os filhos. Temos pais que são nómadas, remote workers e querem que os seus filhos façam parte da sua vida e tenham novas experiências e é isto que o sistema híbrido permite. Dou outro exemplo, um estudante nosso que esteja a frequentar agora o Hub de Cascais amanhã pode estar no nosso Hub do Algarve ou no Porto ou nos Estados Unidos e até em África e isso é interessante. Outro aspeto interessante é que os hubs podem interagir com talks, concursos, etc. É toda uma maneira nova de ver aprender que só pode acrescentar valor às suas vidas e à formação.
8 – Do seu ponto de vista a tecnologia está a influenciar a educação?
TV – Vai ser muito influente, por exemplo no setor terciário. A tecnologia está a permitir que se possa trabalhar a partir de qual- quer ponto no mundo, até já não é preciso emigrar, podemos estar a trabalhar para uma empresa estrangeira a partir do nosso próprio país. E isto é possível graças à tecnologia. E da mesma forma que afeta a forma como trabalhamos também existe necessidade de adaptar a forma como estudamos. Acho que vão existir muitas diferenças e só o facto de podermos ter pessoas apaixonadas pelo que fazem a ensinar crianças à volta do mundo, só pode ser benéfico.
9 – Que outra vantagem encontra neste modelo de ensino?
TV – Poder planear a vida de uma forma diferente, ser mais livre, poder ter férias em momentos diferentes, conseguir conciliar mais facilmente outras atividades que tem interesse, como aprender música, andar a cavalo, apanhar ondas, no caso dos que gostam de surf, quando elas estão boas. Outro ponto que devemos perceber e aceitar é que nem todos colocam o estudo em primeiro lugar, colocam os seus interesses e depois é que vem o estudo. Temos que olhar para o indivíduo de uma forma personalizada e não estandardizar toda a gente, porque as pessoas são diferentes e há que dar atenção a essas diferenças. Na BGA fazemos isso.
10 – De que forma este modelo de ensino poderá contribuir para preparar futuros empreendedores?
TV – É fundamental, as pessoas vão querer ter mais liberdade e vão querer poder ir atrás de mais oportunidades. Vemos pessoas que aos 45 anos não estão felizes, e por isso é necessário encontrar uma forma de tornar as pessoas mais realizadas, mais felizes, com menos depressões e mais fortes mentalmente e isso faz-se na forma como começamos a educar a partir dos 12 anos. Podemos mudar uma vida inteira e assim contribuirmos para tornar as pessoas mais felizes.
11 – Porquê Cascais para o 1º Hub?
TV – Porque foi o sítio onde fizemos o projeto piloto e testámos o modelo. E também porque encontrámos um local extraordiná- rio, perto das dunas, dos cavalos e com uma academia de ténis. Um hub que reunia todas as condições para avaliar o modelo. Agora já estamos com 11 hubs.
12 – Como se encontra este modelo em termos de internacionalização?
TV – Estamos a crescer muito em África, porque conseguimos dar uma educação de qualidade a pessoas que dificilmente iriam ter acesso. Também estamos a ir para os Estados Unidos. Neste caso e por curiosidade porque tivemos pedidos de pessoas de lá. Foi uma surpresa porque não fazia parte dos nossos planos nesta fase. Também na Europa já temos locais identificados como claro a Inglaterra.
13 – Quais os grandes desafios que encontrou no planeamento deste projeto?
TV – Foi pensar de uma forma diferente, como não ser tradicional, porque é confortável manter tudo como está. O mais difícil foi pensar não no que era melhor para o funcionamento da escola ou dos professores, mas sim o que era melhor para os estudantes. Agora temos estudantes felizes e como consequência pais felizes o que é uma mais-valia para todos.
14 – Quais os principais desafios com que os nossos empreendedores se vão deparar nos próximos tempos?
TV – É pensar em grande. É pensar que vão ter que aprender durante toda a vida. É pensar que nunca se vão sentir confortáveis, mas encarar isto como uma vantagem e não como uma desvantagem. É saberem trabalhar em equipa e construir equipas equilibradas que se complementem. É ter um conhecimento profundo das qualidades e das fragilidades e trabalhar com paixão, porque isso é que vai fazer a diferença.
15 – O que pode ser essencial para fomentar o empreendedorismo?
TV – É a rapidez em se adaptar a novos modelos, à tecnologia, abraçar novas oportunidades que surjam. E se os portugueses forem mais rápidos do que os outros países a vantagem será enorme e Portugal tem tudo para ser bem sucedido. Precisamos é de fazer acontecer e executar.
Entrevista com Tim Vieira
CEO Special Edition (África) Bravegeneration (Europe)
Descarregue aqui a 14ª Edição da Revista Game Changer