Pense em um assistente sempre disponível, que nunca adoece e está sempre pronto para ajudar. Essa é a essência da Inteligência Artificial (IA) generativa: transformar a forma como trabalhamos, lideramos e inovamos com um simples comando.
No entanto, a IA ainda não possui o instinto humano de questionar. Ela não contraria, não diz “não” e falta-lhe a perspetiva emocional e racional. A verdadeira “inteligência” é uma combinação complexa entre racionalidade e emoção, enquanto a IA é baseada apenas em algoritmos que processam informações de forma estritamente lógica e limitada ao contexto.
Mas a Inteligência Artificial está a impactar as organizações em cinco áreas centrais: interação com a tecnologia, competências, estrutura de equipas, criatividade e produtividade.
Todos nós precisamos entender que a tecnologia não é responsabilidade apenas do departamento de TI”, é uma competência que todas as áreas da organização devem partilhar.
A rapidez e alterações diárias, obriga a que todos os colaboradores tenham noções básicas sobre como a tecnologia influencia o trabalho e o seu impacto no dia a dia.
A adoção da IA generativa é mais eficaz quando aplicada a pequenas tarefas de baixa complexidade. As pessoas precisam compreender casos de uso de IA para que ela deixe de ser apenas uma “buzzword” e se torne uma ferramenta do dia a dia. Integrar a tecnologia na cultura organizacional requer um investimento inicial em formação e na compreensão do impacto da tecnologia a curto e longo prazo.
Quem compreende os fundamentos tecnológicos adapta-se de forma mais ágil às ferramentas. O conceito de “No Code” demonstra esta tendência ao permitir criar aplicações, automações ou relatórios sem escrever uma única linha de código. Em vez de programar, basta dar um “comando” e configurar algumas opções.
Uma das novidades, será a criação de agentes, que será a capacidade de criar sistemas projetados para executar tarefas de forma autónoma ou semi-autónoma, que ao serem treinados podem dar suporte na tomada de decisões e aprender com a experiência.
Contudo, para tirar o máximo retorno de IA, é fundamental ter uma estratégia de “Governance” de dados, caso contrário, o output destas ferramentas será muito genérico, isto obriga que exista uma estrutura de governança de dados que obriga a organização de informação, definição de permissões e validações. Sem boas práticas neste campo, as soluções “No Code” podem gerar problemas em vez de benefícios. A simplificação tecnológica só acontece, se os dados estiverem minimamente organizados.
E já sabemos que se o briefing for fraco, o output será fraco. Mesmo com a IA, os pedidos têm de ser estruturados e claros.
É engraçado, nas formações que realizo, a cara dos formandos quando “aprendem” a falar para a máquina.
Na Sumol+Compal, no digital hub, estamos a criar de bibliotecas de prompts e listagem de ferramentas recomendadas conforme a necessidades, para que as equipas tirem maior partido da IA de forma sustentável. Na Sumol+Compal, por exemplo, este modelo ajudou a acelerar processos de marketing digital e a reduzir erros em tarefas repetitivas.
Outra alteração significativa é a valorização de soft skills como o pensamento crítico e o pensamento estruturado. Estas competências são essenciais para maximizar o impacto da IA no trabalho.
O pensamento crítico permite avaliar respostas da IA, verificar a fiabilidade das fontes e identificar inconsistências ou enviesamentos. Num contexto de informação massiva, esta capacidade é crucial para evitar aceitar a primeira resposta como verdade absoluta e para garantir coerência entre as soluções propostas. Na equipa, reforçamos frequentemente que a IA generativa é apenas um ponto de partida, não o destino final.
Por sua vez, o pensamento estruturado garante que sabemos formular pedidos claros e objetivos. Um pedido mal estruturado resulta em respostas pouco úteis, enquanto um briefing bem concebido aumenta significativamente a qualidade do output gerado pela IA.
Muitas das vezes, as pessoas ficam frustradas no uso de IA, porque sentem que as respostas são fracas, mas na realidade, muita das vezes o briefing foi fraco.
Combinando estas competências, conseguimos potenciar IA numa ferramenta incrível, sendo o nosso assistente pessoal para ajudar a pensar e estruturar.
Outro ponto, é que a dinâmica das equipas vai alterar, vamos ser menos executantes e mais curadores.
A IA generativa permite automatizar tarefas rotineiras, permitindo tenhamos mais tempo pata focar em tarefas de maior valor, como supervisão, estratégia e inovação. Assim surge o papel de curador, onde já não somos apenas executantes, mas orientamos a IA e adicionamos a perspetiva emocional e racional que lhe falta.
Exemplo, numa central de atendimento ao cliente, um chatbot com IA trata das questões mais simples (por exemplo, dúvidas sobre prazos de entrega). Os colaboradores humanos intervêm apenas quando o tema exige uma análise mais profunda ou a resolução de um problema complexo. Em vez de se dedicarem a responder a perguntas rotineiras, podem propor melhorias nos processos de atendimento.
Esta evolução exige mais do que formação técnica. É uma mudança cultural, em que as equipas passam a trabalhar de forma ágil e horizontal, partilhando conhecimento e decidindo em conjunto. A IA torna-se parte da equipa, mas não a substitui por completo.
É expectável que os colaboradores deixem de ser simples operadores para se tornarem estrategas, capazes de interpretar dados, supervisionar automatismos e tomar decisões baseadas em insights que a IA não consegue fornecer, sobretudo ao nível emocional ou empático. As organizações que investirem na formação contínua e na preparação dos colaboradores para este novo papel terão vantagens competitivas claras.
Na área criativa, a IA atua como um catalisador ao impulsionar o brainstorming e a pesquisa de ideias. Por exemplo, o Perplexity permite sintetizar informações complexas de forma rápida, enquanto a funcionalidade de projetos do ChatGPT organiza ideias e tarefas de maneira estruturada, funcionando como um segundo cérebro. Estas ferramentas não só ampliam o alcance das ideias, mas também tornam o processo criativo mais eficiente e colaborativo.
Outro aspeto é a capacidade de idealização de uma ideia. A IA permite criar rapidamente imagens ou conceitos visuais que servem como referência inicial para simplificar o briefing ou orientar a equipa de produto. Por exemplo, ao gerar um rascunho visual de um produto, a equipa criativa pode alinhar expectativas mais facilmente ou transmitir uma ideia concreta a um fotógrafo ou designer, reduzindo interpretações ambíguas e acelerando o processo criativo.
Apesar da rapidez e amplitude de geração de ideias, a IA não tem emoção ou intuição. É o toque humano que traz coerência, profundidade e uma ligação genuína ao público. Ao colaborarmos com a IA, ganhamos tempo para explorar detalhes, refinar conceitos e adicionar a “alma” que o algoritmo não consegue reproduzir.
Um bom prompt faz toda a diferença entre uma ideia superficial e um desenvolvimento mais estruturado. Mas torna-se fundamental superar o preconceito de que algo criado com o apoio de prompts não pode ser criativo. A criatividade, nestes casos, reside na capacidade de formular pedidos inteligentes e extrair valor a partir das sugestões geradas.
Mas qual o impacto?
A curto prazo, o principal impacto da IA será na produtividade. Estudos da McKinsey indicam que a adoção da IA generativa pode potencialmente melhorar a produtividade das empresas em até 40%, dependendo da área de aplicação e do nível de integração tecnológica (McKinsey). Este impacto é especialmente relevante em setores como marketing e operações, onde a IA já tem demonstrado a capacidade de reduzir custos e melhorar a eficiência operacional (McKinsey).
Na minha opinião, o foco não deve ser a eliminação de força de trabalho, mas sim a criação de mais tempo para que os colaboradores possam pensar estrategicamente e impulsionar a inovação dentro da organização.
Muitos profissionais têm um conhecimento profundo do “negócio”, mas estão sobrecarregados com tarefas rotineiras. A IA oferece uma oportunidade única para automatizar estas atividades, criando nas equipas tempo para se concentrarem em tarefas de valor acrescentado, no desenvolvimento de novos produtos e no aumento do valor entregue ao cliente.
A Conclusão?
A IA Generativa é apenas o ponto de partida, não o destino final.
O potencial para aumentar a eficiência e a capacidade de inovar, vai depender da transformação nas organizações.
Para que as empresas implementem e acelerem a adoção da IA, é fundamental contar com promotores internos e uma equipa de transformação, e não limitar este esforço apenas ao digital. Esta transformação vai além da tecnologia; deve estar enraizada na cultura organizacional e ser liderada de cima para baixo.
As organizações devem:
• Formar as equipas em pensamento crítico e estruturado, promovendo uma utilização consciente e estratégica da tecnologia.
• Incentivar a colaboração multidisciplinar, integrando a IA na cultura organizacional, em vez de a tratar como um projeto isolado no departamento de TI.
• Reforçar o papel humano na supervisão e na criatividade, utilizando a IA como um acelerador que complementa, em vez de substituir, a inteligência humana.
• Criar um ambiente de aprendizagem contínua, incentivando à experimentação.
No final do dia, o sucesso não depende das ferramentas, mas das pessoas.
Bruno Oliveira
Head of Digital Hub & E-Business, SUMOL + COMPAL