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1 de Abril de 2022

A Pandemia é um Game Changer para os escritórios? – Game Changer 15

É preciso recuar ao século XVII para encontrar a primeira ideia de escritório – enquanto espaço concreto de trabalho – defendem alguns historiadores. Naquela altura, apenas uma secretária e, talvez, uma estante compunham o cenário. Mas o conceito foi-se moldando: primeiro com a chegada da revolução industrial e das novas profissões, e já no século XIX, com os primeiros grandes e icónicos edifícios de escritórios. Estes espaços modernos, que surgiram após a Segunda Guerra Mundial com base num critério de hierarquia rigoroso, não pararam de evoluir – e a pandemia já se tornou num novo momento fulcral desse processo de evolução.

A forma de pensar o escritório mudou. Passámos de uma perceção de custo por metro quadrado, para uma lógica de experiência por metro quadrado, com implicações no design dos espaços. Enquanto arquitetos, pensar e desenhar escritórios nunca foi tão desafiante.

Hoje o local de trabalho não é apenas um sítio para os colaboradores “despacharem” tarefas, porque isso também o fazem remotamente. É, ou tem de passar a ser, muito mais do que isso. O novo escritório é um local de inspiração e aprendizagem, onde as pessoas se sentem bem e em segurança. Um espaço colaborativo, que gera sentimentos de pertença e respira a cultura da empresa.

Na OPENBOOK Architecture, temos vindo a receber solicitações para desenhar escritórios novos ou repensar outros já existentes, o que é revelador da preocupação atual de ir ao encontro das tendências de um novo paradigma. Seja pela tecnologia, pelo bem-estar ou, por exemplo, pela colaboração, é imperativo garantir que o escritório esteja devidamente adaptado às necessidades e desejos dos colaboradores. E tal como cada empresa é única, também os locais de trabalhos deverão ser todos eles distintos uns dos outros e adaptados à sua própria realidade.

A SPS Advogados, com quem trabalhámos recentemente no projeto de remodelação dos seus escritórios, reduziu em 50% a área do seu local de trabalho, dado que definiu um novo modelo de trabalho híbrido. Este projeto privilegiou as áreas comuns e colaborativas, com especial atenção para o conforto visual e acústico.

Outro exemplo igualmente interessante é o recente projeto de renovação do campus da Nestlé, que teve como objetivo promover um sentido de comunidade e de contacto com a natureza. O campus tem cerca de 22.000m2 e no exterior foram projetadas diversas zonas de lazer, uma pista de jogging, hortas e uma Garden Box, que se traduz num edifício modular e versátil com várias zonas colaborativas, que atrai as pessoas para o exterior e introduz uma nova dinâmica de trabalho e lazer. Da mesma forma os escritórios da PHC Software, um projecto desenvolvido para o Taguspark, conciliam salas de reuniões com zonas de convívio e lazer (como sala de jogos e de música, biblioteca digital ou sala de massagens). Este último um projecto OPENBOOK que valeu, em 2021, o prémio internacional Architecture Masterprize na categoria de interior design/workplaces e uma menção honrosa na categoria de architectural design/commercial architecture.

O período pandémico permitiu criar uma nova relação com os vários espaços que habitamos – e os escritórios não são excepção. Com o trabalho a ser feito remotamente, as pessoas reavaliaram as suas prioridades e muitas mostram-se hesitantes em voltar ao escritório tal como o deixaram antes da pandemia. O teletrabalho abriu horizontes e permitiu uma nova gestão de tempo e as pessoas perceberam que, com a tecnologia e as condições adequadas, conseguem levar a cabo as suas tarefas com sucesso.

Hoje há já muitas empresas a adotarem modelos híbridos com toda a eficácia mas, importa não esquecer, o local de trabalho tem funções que não são replicáveis remotamente. E é aqui que as empresas têm de se concentrar para atrairem os seus colaboradores criando espaços diferenciadores, marcantes e convidativos. A pandemia é um game changer para os escritórios? Sem dúvida.

 

Paulo Jervell
Arquiteto e Parner, OPENBOOK Architecture

Descarregue aqui a 15ª Edição da Revista Game Changer

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