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1 de Agosto de 2025

Criar Laços, Moldar Espaços – Game Changer 23

O futuro do trabalho já chegou — e com ele uma mudança de paradigma na forma como colaboramos, lideramos e pertencemos às organizações. Num mundo onde a tecnologia acelera, as estruturas hierárquicas se desvanecem e o talento se distribui globalmente, emergem duas dimensões estratégicas que moldam essa transformação: as relações e redes humanas (networking interno e externo) e os espaços físicos e simbólicos (os escritórios e a sua gestão).

Estas esferas são profundamente interdependentes. A qualidade das relações que construímos impacta diretamente a colaboração, a inovação e a confiança, enquanto os ambientes — sejam eles físicos, digitais ou híbridos — influenciam o comportamento, o bem-estar e o desempenho dos colaboradores. Neste artigo, exploramos como essas duas dimensões estão a redefinir o que significa trabalhar, liderar e pertencer no século XXI.

LAÇOS

O Future of Jobs Report 2025, do Fórum Económico Mundial, projeta a criação líquida de 78 milhões de empregos até 2030, à escala global. Essa expansão evidencia a necessidade de preparar as pessoas para novas funções, tecnologias e contextos de trabalho. Contudo, as competências do futuro vão muito além do domínio técnico: elas são, essencialmente, humanas.

“O futuro do trabalho não será apenas tecnológico. Será profundamente humano.”

Num ambiente de constante transformação, as chamadas soft skills — colaboração, empatia, escuta ativa, comunicação clara e influência — assumem papel central. Estudos recentes reforçam essa tendência:

  • A RH Magazine, nas suas tendências para 2025, destaca Colaboração, Networking, Empatia, Comunicação e Influência como competências críticas;
  • Um estudo da IBM, com 1500 CEOs, revela que 75% dos líderes identificam a colaboração como a principal habilidade desejada;
  • A McKinsey, no estudo “Defining the skills citizens will need”, enfatiza a importância da auto-liderança — que engloba resiliência, auto confiança e empatia — como fator determinante para o sucesso em contextos incertos;
  • Uma sondagem da Harris para a Fortune mostra que, para quatro em cada cinco chefias, as competências interpessoais são a maior lacuna na Geração Z. Isso sublinha o desafio de gerir cinco gerações trabalhando lado a lado, exigindo novas abordagens de formação e liderança;
  • O Policy Paper “Automação e Inteligência Artificial no Mercado de Trabalho Português” da Fundação Francisco Manuel dos Santos, identifica que as competências mais valorizadas e relevantes nas “profissões em ascensão” e nas competências do futuro são “comunicação, colaboração e criatividade”; “competências de informação” e “competências de gestão”, recomendando ainda a requalificação com foco em comunicação e competências interpessoais.

Em suma, o verdadeiro valor das redes humanas vai além do mero contato: trata-se de cultivar relações autênticas e contínuas, baseadas na confiança e na co-criação, que geram sinergias e oportunidades tanto dentro quanto fora das organizações.

 

ESPAÇOS

Enquanto as relações humanas são o coração da colaboração, os espaços onde essas interações ocorrem são o corpo que o aloja. O escritório tradicional, centrado na supervisão e na “produtividade”, cede lugar a ambientes concebidos para inspirar, conectar e cuidar das pessoas.

O relatório The Workplace of the Future, da CBRE, evidencia que o escritório não morreu, está a evoluir para se tornar um local de encontro, criação e cultura. Este novo conceito de espaço vai muito além de um local de trabalho — trata-se de um ecossistema com uma nova missão que:

  • Estimula conexões humanas e a aprendizagem informal.
  • Reforça a identidade e a cultura organizacional.
  • Promove o bem-estar físico e emocional dos colaboradores, com impacto positivo no desempenho.

Dados do Leesman Index, que analisa a eficácia dos ambientes de trabalho à escala global, demonstram que o layout e o design dos escritórios têm impacto direto na performance individual e coletiva. Nesse contexto, o Facility Management assume uma função estratégica, transformando elementos como iluminação, acústica, mobiliário e zonas comuns em ferramentas de cultura e desenvolvimento humano.

Observações recolhidas junto da APFM (Associação Portuguesa de Facility Management) reforçam esses pontos, destacando desafios como:

  • O medo da perda da cultura organizacional.
  • A disparidade entre quem trabalha presencialmente e quem está remoto.
  • O impacto da ausência física em reuniões híbridas.
  • A necessidade de proporcionar um sentido de pertença, especialmente para as novas gerações, que buscam não apenas eficiência, mas também vínculos emocionais.

“O espaço certo, no momento certo, para o tipo de trabalho certo.”

Este novo papel do escritório exige uma abordagem mais intencional. O Facility Management, tradicionalmente associado à operação e manutenção, é agora um ator estratégico na criação de experiências humanas positivas, capaz de responder a momentos críticos de vida dos colaboradores com empatia e estrutura. Em última análise, o design e gestão dos escritórios e ambientes profissionais não é mais uma questão meramente estética ou operacional, mas pilar essencial para criar segurança psicológica e promover o envolvimento dos colaboradores e a produtividade.

Assim, para as empresas, a tarefa é dupla: desenvolver as suas pessoas e repensar os espaços de trabalho para que se tornem verdadeiros ecossistemas de colaboração, aprendizagem e bem-estar.

 

CONCLUSÃO

O futuro do trabalho será definido não apenas por inovações tecnológicas, mas principalmente pelas relações humanas em ambientes com propósito. Investir em competências interpessoais e no desenho dos espaços, fará a diferença entre organizações que apenas sobrevivem e aquelas que florescem num cenário de transformação acelerada.

 

Valter Alcoforado Barreira | Miguel Alves Agostinho

Especialista em Business Networking e Negociação Founder, Facilitator & Speaker Knowing Counts  | Director Executivo APFM – Associação Portuguesa de Facility Management e Regional Director FMHOUSE

 

Descarrega aqui a 23ª Edição da Revista Game Changer