Por Patrícia Bispo, Head of Learning and Development, GALILEU
As práticas ESG (Environmental, Social, and Governance) estão a transformar-se numa prioridade estratégica para empresas em todo o mundo. A integração destas práticas traz diversos benefícios, e o papel dos Recursos Humanos (RH) é fundamental neste processo.
Primeiramente, faz sentido enquadrar que as práticas ESG referem-se a três pilares fundamentais para a sustentabilidade empresarial:
Environmental – Foco na gestão ambiental, incluindo a redução de emissões de carbono, eficiência energética e gestão sustentável dos recursos naturais, entre outros.
Social – Envolvimento com as comunidades, condições de trabalho dignas, diversidade e inclusão no local de trabalho, work-life balance; saúde mental; igualdade de género.
Governance – Transparência, ética empresarial, estrutura de governança eficaz e cumprimento de regulamentações.
Os departamentos de RH podem e devem desempenhar um papel central na promoção e implementação destas práticas dentro das organizações, uma vez que têm a capacidade de explorar e influenciar cada uma das vertentes ESG.
Ao nível Ambiental (Environmental), têm uma responsabilidade particular na educação e sensibilização dos colaboradores. Promover a consciencialização ambiental através de programas de formação e campanhas internas é essencial. Estudos como da McKinsey (Five Ways That ESG Creates Value) mostram que 73% dos colaboradores em empresas com fortes práticas ESG sentem-se mais informados sobre questões ambientais. Além disso, implementar políticas de trabalho sustentáveis, como o teletrabalho e a redução de deslocações, contribui significativamente para diminuir a pegada de carbono.
Na vertente Social, a criação de um ambiente de trabalho inclusivo, garantindo igualdade de oportunidades e promovendo a diversidade, é fundamental. Empresas com maior diversidade de género têm 21% mais probabilidade de alcançar uma lucratividade acima da média da indústria. Além disso, o bem-estar dos colaboradores é uma prioridade, desenvolver programas que cuidem da saúde física e mental dos colaboradores aumenta a satisfação e a produtividade. A PwC relata que 83% dos trabalhadores que se sentem valorizados pelo seu empregador apresentam maiores indíces de satisfação e produtividade.
Em termos de Governança, é crucial assegurar que as políticas de RH estão alinhadas com os princípios de transparência e ética. Empresas transparentes têm 47% mais probabilidade de ganhar a confiança dos seus stakeholders. Garantir o cumprimento das regulamentações e legislações aplicáveis também é vital para evitar riscos legais e reputacionais.
Benefícios das Práticas ESG para as Empresas
A adoção de práticas ESG (Environmental, Social, and Governance) não só está associada a vários benefícios, como à obrigatoriedade de cumprir com a legislação europeia (e posteriormente nacional), nomeadamente no que toca à obrigação de reporte (de que é exemplo o CSRD) e à necessidade de cumprir uma série de requisitos atualmente obrigatórios para a obtenção de crédito e acesso a subsídios e outras formas de apoio. Esta adoção de boas práticas proporciona múltiplos benefícios para as empresas, entre os quais se destacam a melhoria da reputação, a atração e retenção de talentos, o desempenho financeiro, a redução de riscos e a inovação e eficiência.
Empresas que adotam práticas ESG são vistas como responsáveis e éticas, o que melhora a sua imagem pública e reputação. A maioria dos consumidores tende a ser mais leal a organizações que apoiam questões sociais e ambientais, valorizando o seu compromisso com um futuro mais sustentável. Este é um passo crucial para construir uma relação de confiança com o público e fortalecer a marca no mercado.
Além disso, a capacidade de atrair e reter talentos é significativamente potenciada. Profissionais, especialmente das gerações mais jovens, procuram empresas que partilhem dos seus valores de sustentabilidade e responsabilidade social. Um survey da Deloitte revelou que 49% dos millennials escolhem o seu empregador com base nos valores e no impacto social da empresa, evidenciando a importância de um compromisso genuíno com as práticas ESG.
No que diz respeito ao desempenho financeiro, estudos indicam que empresas com práticas ESG robustas tendem a ter um melhor desempenho a longo prazo. Segundo a McKinsey, estas empresas beneficiam de um custo de capital 10% menor, em média. Isto traduz-se na capacidade de financiar os seus projetos e operações a um custo mais baixo, conferindo-lhes uma vantagem competitiva significativa em relação às que descuram estas práticas.
A redução de riscos é outro benefício crucial. De acordo com a PwC, 79% dos investidores consideram os riscos ESG nas suas decisões de investimento. Implementar práticas ESG ajuda a mitigar riscos legais e reputacionais, garantindo conformidade com regulamentações rigorosas, como o Regulamento SFDR da União Europeia. Este foco proativo na gestão de riscos é vital para a sustentabilidade a longo prazo de qualquer organização.
Por fim, a adoção de práticas ESG pode impulsionar a inovação e eficiência. A implementação de estratégias sustentáveis frequentemente conduz a processos mais eficientes e inovadores, resultando em poupanças significativas e melhorias na competitividade. Empresas focadas na sustentabilidade tendem a demonstrar um aumento na eficiência operacional, permitindo-lhes não apenas reduzir custos, mas também responder de forma mais ágil e criativa às exigências do mercado.
A nível nacional, a sensibilização para a importância das práticas ESG tem vindo a crescer significativamente nos últimos anos. Este aumento de consciência resulta de fatores como mudanças na regulamentação, pressão dos consumidores e investidores, e um reconhecimento crescente dos benefícios associados à sustentabilidade e responsabilidade social.
Neste contexto, cabe às organizações apostar nesta área, com os Recursos Humanos a desempenharem um papel crucial na implementação e promoção das práticas ESG. Ao alinhar as suas estratégias com os princípios ESG, as empresas cumprem com as exigências regulamentares e éticas e posicionam-se para um crescimento sustentável.
Os profissionais de RH são a força motriz desta mudança. Ao liderarem pelo exemplo, podem assegurar que as suas empresas se destacam numa sociedade onde a sustentabilidade e a responsabilidade social são cada vez mais valorizadas.
Através da integração de práticas ESG nas suas políticas e processos, as organizações estarão melhor preparadas para enfrentar os desafios do futuro, contribuindo para um ambiente empresarial mais ético, sustentável e competitivo.