Nos dias de hoje, gerir uma organização vai muito além de manter o foco nos objetivos e metas tradicionais. Um dos maiores desafios que enfrentamos é lidar com a constante evolução tecnológica. No entanto, o verdadeiro obstáculo não reside apenas na implementação de novas tecnologias, mas sim na resistência que surge dentro das equipas quando se fala em inovação. Este fenómeno é particularmente visível em processos de transformação digital, onde a adoção de novas ferramentas e metodologias pode provocar receios e incertezas, tanto ao nível técnico como humano.
É natural que as pessoas temam o desconhecido. O receio de perder relevância, de não acompanhar as mudanças ou, até, de ver as suas funções automatizadas é legítimo. No entanto, como gestores, é nossa responsabilidade ajudar a ultrapassar essas barreiras, transformando o medo em oportunidade. Aqui, a liderança tem um papel fundamental na construção de uma cultura organizacional que incentive a experimentação e promova a confiança nas mudanças que a tecnologia traz.
Nos últimos anos, um dos maiores impulsionadores desta transformação tem sido a emergência da Inteligência Artificial Generativa (GenIA). Esta tecnologia inovadora tem o potencial de acelerar a evolução organizacional de forma significativa. Ao permitir a automação de tarefas complexas e repetitivas, a GenIA liberta as equipas para se concentrarem em atividades estratégicas e de maior valor.
Além disso, traz uma nova capacidade de análise e criação de soluções inovadoras, abrindo possibilidades que antes estavam fora do alcance das empresas. A rapidez com que conseguimos gerar insights e melhorar processos com o auxílio da GenIA pode transformar radicalmente a forma como as organizações operam.
No entanto, esta transição não é isenta de desafios. Um dos maiores obstáculos é, sem dúvida, a gestão eficaz das equipas de informática e o alinhamento destas com as restantes áreas da organização. As equipas de tecnologia, frequentemente responsáveis pela implementação da infraestrutura digital, enfrentam o desafio de integrar novas ferramentas sem causar interrupções significativas nas operações diárias. Ao mesmo tempo, a pressão para garantir a segurança de dados, a continuidade do negócio e a adaptação a novas tecnologias cria um ambiente exigente e, muitas vezes, de grande stress.
A par destes desafios técnicos, está a gestão de pessoas. Numa transformação digital, não é apenas o software que precisa de ser atualizado, mas também as mentalidades e competências das equipas. Muitas vezes, surgem resistências internas que podem bloquear ou atrasar a adoção de novas tecnologias. Estas resistências podem estar enraizadas em medos profundos de desvalorização profissional ou até mesmo na ideia de que a inovação pode eliminar postos de trabalho. Enquanto líderes, é essencial reconhecer estas preocupações e responder-lhes de forma empática.
A resposta está na capacitação contínua. Formar as equipas de informática e todas as áreas da organização para que vejam a tecnologia como uma aliada, e não como uma ameaça, é fundamental. Oferecer formação técnica e de soft skills é um dos pilares para o sucesso da transformação digital. Por outro lado, é crucial promover um ambiente onde o erro seja visto como uma parte natural do processo de crescimento. Não há transformação sem aprendizagem, e isso implica testar novas abordagens e, por vezes, falhar. A cultura organizacional precisa de refletir esta abertura para a inovação, incentivando a experimentação e a criatividade em todos os níveis da empresa.
Outra questão essencial é a formação contínua dos líderes e gestores, que muitas vezes se encontram na linha da frente da transformação digital. É aqui que entra o papel de instituições especializadas, como o ISCTE Executive Education, que oferece formação executiva focada nos desafios emergentes da transformação digital, incluindo temas como a GenIA. A formação executiva permite que os líderes se mantenham atualizados, adquirindo as ferramentas necessárias para liderar com confiança em tempos de mudança rápida.
A formação contínua é vital para que os gestores compreendam não só as tecnologias envolvidas, mas também como podem alinhar as suas equipas e motivá-las a abraçar o processo de transformação.
Durante este processo, a comunicação entre a equipa de informática e as restantes áreas da organização torna-se um desafio essencial. Muitas vezes, as equipas técnicas falam numa linguagem que não é compreendida por outros departamentos, criando uma barreira ao progresso. A capacidade de “traduzir” o impacto da tecnologia em resultados concretos para o negócio é uma competência crítica que deve ser desenvolvida. Por isso, é importante criar espaços de diálogo e colaboração entre os departamentos de TI, de gestão e de operações, promovendo uma visão integrada de como a tecnologia pode beneficiar toda a organização.
No entanto, as transformações digitais não acontecem de um dia para o outro. É um processo contínuo que exige paciência, dedicação e uma forte liderança. Como gestores, devemos estar prontos para guiar as nossas equipas através das mudanças, enfrentando resistências e promovendo uma mentalidade de inovação. Abrir portas à tecnologia, como a GenIA, não significa apenas adotar novas ferramentas, mas sim fomentar um ambiente onde todos sintam que fazem parte deste futuro digital.
Em última análise, o sucesso da transformação digital depende da nossa capacidade de gerir tanto a tecnologia quanto as pessoas. Investir em formação, tanto a nível técnico como de liderança, é fundamental para garantir que as equipas estão preparadas para o futuro. Resistir à mudança pode ser o caminho mais fácil a curto prazo, mas, no longo prazo, abrir portas à inovação é o único caminho para manter a competitividade e relevância no mercado.
Paulo Rodrigues Ferreira
IT Manager, ISCTE Executive Education