O que move os “nossos” Colaboradores para dar o “extra mile” nas empresas?
Esta é a nossa implacável “one million dollar question“.
Mais do que conseguir recrutar o melhor talento, o que realmente procuramos nas nossas empresas é ver esse talento energizado, galvanizado, com espírito de missão e entrega – e como conseguir esta alquimia tão desejada?
Elton Mayo, professor em Harvard, na conclusão dos seus trabalhos de investigação na fábrica de Hawthorne, atreveu-se a explicar no âmago das teorias organizacionais behavioristas que “trabalhador feliz é trabalhador produtivo”.
Apesar da aparente simplicidade desta arrojada correlação, no mundo corporativo, aparentemente, ainda é desconfortável falar de felicidade nas organizações.
Há uns anos foi efetuado um estudo muito interessante sobre o que faz as pessoas felizes (Happiness Research Institute). Mundialmente, ou seja, independentemente da zona geográfica, religião, etnia, idade, entre outros fatores, qual seria o denominador comum da felicidade na natureza humana.
Com base num survey muito alargado, conseguiram ser identificadas três características que eram comumente aceites e referidas por todos os inquiridos e entrevistados.
Primo
Ter alguém com quem contar, e as experiências relatadas eram muitas e variadas, desde um pneu furado a uma ajuda a meio da noite, de um amor, um parente, um amigo ou simplesmente um vizinho, mas saber que há alguém a quem se pode recorrer.
Ora, nas organizações já ouvimos relatos similares, o mentor que nos salvou quando estávamos a ter dificuldades com a equipa, o buddy que nos deu dicas valiosas sobre uma nova cultura organizacional, o boss que nos inspira e agita e nos faz aprender mais e melhor, a empresa que nos disponibilizou apoio para a saúde mental numa altura crítica como o covid, a empresa que está lá para nós e nos acompanha nos bons e menos bons momentos.
Uma vez visitei o centro de formação da Nestlé em Vevey, na Suiça e fiquei impressionada com a qualidade das instalações e dos programas ali desenvolvidos.
No entanto, o que mais me impactou foi o Diretor do Centro nos ter feito uma apresentação em que contava que tinha estado na área comercial muitos anos e que no seguimento de uma dificuldade pessoal, tinha estado uns tempos fora a recompor-se sempre com o apoio da empresa e agora tinha esta função de desenvolvimento do centro.
Disse-nos emocionado, sempre farei tudo por esta empresa, ela também soube sempre estar lá para mim!
Secundo
Ter autonomia, ter liberdade para tomar as minhas decisões e não me sentir numa relação de dependência que me condiciona de forma desfavorável. Muito se tem escrito sobre a gestão nas organizações tradicionais mais alicerçada no comando e controle e como o binómio responsabilidade e autonomia parece trazer melhores resultados, mais consistentes e mais sustentáveis no tempo. Não será despiciendo pensarmos na gestão das nossas equipas e na necessidade que terão de ter autonomia de decisão para poderem sentir-se verdadeiramente felizes no seu trabalho de forma a dar o tal extra-mile.
Neste contexto, um caso paradigmático de sucesso, talvez a organização mais prestigiada do mundo na entrega de um serviço ao Cliente de excelência, é o Ritz Carlton. Todos os seus colaboradores têm um plafond pré-aprovado para poderem fazer qualquer despesa decidida por si, de forma autónoma, se for em prol de um melhor serviço ao Cliente. Conta-se a história do empregado de mesa que deixou cair vinho tinto num casaco branco de uma Cliente e tendo os serviços de lavandaria do hotel fechados, levou o casaco a uma lavandaria fora e fez a despesa com base nesse plafond sem nunca ter inquirido ou informado a sua chefia. A cultura da casa, sagaz e sapiente, há muito que já percebeu que a autonomia dada aos Colaboradores é uma vantagem competitiva, para a sua felicidade e a felicidade dos seus Clientes.
Tertio
Termos aprendido algo recentemente. Aprender algo, de coisas simples a coisas mais complexas, através de um curso, um filme, um livro, uma série, uma peça, uma exposição, tudo nos pode inspirar e fazer sentir vivos e energizados se sentirmos que estamos a aprender, desenvolver e crescer.
Três decorrências importantes para a vida nas organizações, primeiro, aprender não tem idade e o saber não ocupa lugar, pelo que, vale sempre a pena investir em formação, em qualquer fase da carreira de um Colaborador. Segundo, sem formação não conseguimos reconverter os nossos espaços de colaboração e a forma como trabalhamos com maior flexibilidade e agilidade nas geometrias várias que as equipas de trabalho podem ir tendo, conforme os diferentes projetos – pelo que o reskilling e o upskilling continuarão a ser cruciais para o desenvolvimento e sobrevivência da nossa vida organizacional. Em terceiro lugar, a formação não tem de ser especifica da área ou da função, o objetivo é potenciar um growing mindset, tudo o que nos ensine a alargar a mente (aprender árabe), a incrementar o foco (aprender photoshop), ou até a fazer como o Steve Jobs que parecia diletante ao estudar caligrafia, e que como o próprio refere, um dia haveria de ser útil e assim foi para introduzir as fontes das diferentes letras nos primeiros Macintosh, logo seguidos pela Microsoft, pois confiemos que um dia, quando menos esperarmos, eureka, faremos o “link the dots”.
Em suma, fica aqui o repto para reflexão, se a vida nas organizações é feita de pessoas, se todos os feitos grandiosos das nossas empresas são concretizados por pessoas, não vos parece que o tema da felicidade nas organizações já deveria há muito fazer parte das nossas agendas?
Veja abaixo a entrevista complementar:
Sandra Brito Pereira
Human Resources Director, Banco Montepio
Descarregue aqui a 20ª Edição da Revista Game Changer